No âmbito do projeto “Entre Freguesias: patrimónios cruzados”, chegou o dia de irmos conhecer um moinho de vento, no alto da Serra da Pescaria, freguesia de Famalicão.
No dia 29 de fevereiro, a turma do 4º ano da Escola de Quinta Nova, a bordo do autocarro da Câmara Municipal da Nazaré, dirigiu-se ao “moinho do Ti' Anacleto”, acompanhado por um elemento da Junta de Freguesia de Famalicão da Nazaré, o senhor Arménio Silva.
Chegados ao local, sobranceiro ao mar e num dia ensolarado de uma primavera antecipada, aproximámo-nos do moinho, branco e azul, memória da “arte de fazer pão”.
Arménio Silva, devido a uma longa convivência, desde os seus tempos de infância, com aquele moinho e com o “Ti’ Anacleto” (moleiro), conta-nos a sua experiência e partilha com o grupo os seus conhecimentos e memórias.
De forma redonda e feito de pedra, de paredes grossas, o moinho era totalmente branco, pintado com cal e, posteriormente, foram acrescentadas “barras” azuis, cor proveniente da mistura de ocre.
O teto, de forma cónica e feito de zinco, protegido com alcatrão e óleo queimado, tem o nome de “capelo”. No vértice do capelo está montado um cata-vento, que pode ser manobrado a partir do interior, orientando as velas na direção do vento. O movimento de rotação do capelo é transmitido a partir do sarilho, existente no interior. O capelo é atravessado por um mastro de madeira, a que se fixam 8 varas ou vergas, e onde se amarrar as respetivas velas, de pano branco e forma triangular.
No interior existe uma grande roda dentada – a entrosa –, cujos dentes engrenam num eixo vertical no centro do moinho e transmite às mós a energia eólica captada pelas velas, fazendo-as girar.
Para imprimir o movimento inicial às velas, o moleiro tinha que empurrar todo o velame, quase que “empoleirar-se”, balançar-se, sujeitando-se, frequentemente, a pequenos ferimentos.
Foram relembradas as manobras necessárias para aproveitar ao máximo a força do vento e o bom funcionamento do moinho, abrir ou enrolar as velas, espiar as cordas, movimentar o sarilho, fixando em diversas posições a corda respetiva (através de ganchos colocados em vários pontos do corpo do moinho), picar as mós, ensacar a farinha já moída.
Arménio Silva lembra-se de ser garoto e, quando havia vento, noite e dia, ouvir o barulho incessante dos búzios do moinho. Era um trabalho perigoso e solitário. Os cereais vinham dos campos em redor, mas depois de ficar com a sua “maquia” e após ensacada, o “Ti’ Anacleto” ia de burro ou carroça distribuir a farinha, de trigo ou sobretudo de milho.
Junto ao edifício do moinho, observam-se ainda vestígios de um pequeno anexo para arrumos e uma eira, de forma quadrangular. A eira era o recinto destinado a secar, malhar, limpar ou peneirar os cereais, separando o grão da palha e de outras impurezas. Outrora, esta eira teria sido de barro e circular, o que facilitaria a utilização da tração animal.
Lamentou-se não ter sido possível visitar o interior deste moinho, devido a problemas de segurança mas, de qualquer forma, estar próximo de um moinho e o estudo de toda a sua envolvente exterior serviu para aumentar o entendimento que o grupo tinha sobre como se obtinha a farinha para fazer o pão, que outrora era tão importante na alimentação.
Conheça algumas fotografias de Álvaro Laborinho sobre práticas agrícolas do concelho da Nazaré:
Eduardo Brazão de moleiro no moinho, 1915
Carregando trigo, carro de bois, 1933
Debulha na eira do Valverde, 1926
Mulheres jantando na eira do Valverde, 1915
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